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Da arte de se reinventar

  Desde tudo o que eu me lembro sobre a primeira vez que fiz teatro, estava na plateia assistindo Cacá Carvalho. A peça era “Meu Tio Iauretê”, eu tinha uns 18 anos e não era lá espectador de teatro, mas por algum motivo saí de casa naquele dia, paguei meu ingresso e sentei escondidinho no escuro. Ao final do espetáculo, eu estava absolutamente brilhante, arrepiado, sem chão, sem saber como voltar pra casa depois de ter presenciado aquilo, depois de ter participado daquilo, sem saber com quem dividir tamanha sensação. Mas com uma certeza: precisava reinventar minha vida.

  Desde então, tenho direcionado os meus trabalhos para renovar aquela sensação, como se renova os votos da religião, do casamento sei lá... Eu que era inquieto e meio perdido com tantos sonhos e nenhum plano, finalmente ali vi um porto turbulento o bastante para atracar meu barco.

  E Logo descobri que o ofício que escolhi tinha que defender com unhas e dentes, como se defende um personagem, como se constrói uma fábula teatral.

  Desde o entendimento que minha família (composta de engenheiros, professores e advogados e de uma matriarca cuidadosa e um patriarca mecânico) tem e que passaram anos tentando me dissuadir do caminho, até o entendimento que o poder público tem de nosso ofício, e que há anos tenta nos sufocar e até matar de inanição, todos os dias é necessário renovar os votos Grotowski dizia que a essência do teatro é um poderoso encontro consigo, desde os instintos, o inconsciente até a lucidez. E depois que tu fazes um mergulho como esse, meu amigo, ninguém volta vaquinha de presépio.

   O teatro é uma arma muito eficiente, como dizia Boal e Eles sabem, historicamente sabem. Em tempos onde o caráter, os escrúpulos as condutas entram em declínio total, só a arte para rasgar a carne hipócrita de uma sociedade falida. Por isso somos tão perseguidos e os primeiros que sofrem com pseudos crises financeiras.

  Uma força tão poderosa quanto aquela que há trinta anos me catapultou da cadeira só pode ser perigosa para Eles que necessitam de gados e não seres pensantes. Para defender essas duas tábuas que pisamos com orgulho é necessário enfrentamento e nos engajar em linhas de frente contra o massacre ideológico, contra esse corpo sem cabeça que querem nos impor.

  Do coração da Amazônia temos gritado animalescamente como o onceiro de Guimarães Rosa (e de Cacá), contra uma política acachapante neoliberal psdebista que perdura há 20 anos no Pará. Esta sombra pesada estacionou sobre nossas cabeças e abateu o movimento teatral quase na raiz (quase). Até então éramos uma terra fértil. Mas veio a mão pesada da meritocracia, uma estética elitista e burra ditando o que é ou não arte, uma postura cínica que se ateve a tão somente cortar os acessos dos artistas, numa perfeita orquestração da arte da guerra: se não conheces, não podes sentir falta.

  O poder público fechou as portas para nós. Não só não deu incentivo, como aumentou as taxas dos teatros, sucateou o teatro experimental Waldemar Henrique (com uma arquitetura arrojada e fruto de conquistas da categoria), e deixou os artistas no olho da rua. Tudo isso com a opinião pública alheia, silenciosa, quieta, talvez feliz.

  Uma vez na rua, nova reinvenção. Espaços públicos passaram a ser ocupados com teatro na rua, outras vozes, outros públicos, outras experiências, então o Estado passou a taxar as ruas também e impuseram que voltássemos para casa.

Uma vez em casa, nova reinvenção. Espaços “caseiros” passaram a ser abertos. Passamos a receber o público em casa.

Vivemos em uma peça infinita brechtiana. Mas para que esta fábula possa ter mais alguns atos, é necessário renovar nossos votos, derrubar novos vetos. Entender que ator é o que age e que drama é ação.

O Tartufo (2002)
Teoris do Ímpeto (2017)
Só dói quando eu rio (2016)
Hamlet (Unipop) 1992
Hamlet Máquina (1997)
Aldeotas (2014)

ALDEOTA

É uma fabula moderna de Gero Camilo. Fala da trajetória dos amigos Levi e Elias, que se reencontram aos 50 anos, e no imaginário de Levi - que narra a estória - voltam ao lugar onde cresceram para reviverem cores, sabores, brincadeiras, descobertas e dramas pessoais do passado. Memórias sobrepostas, isso tudo vivido numa cidade pequena. Aldeotas é, antes de tudo um sentimento experimentado por quem um dia foi criança e adolescente, hoje adulto nostálgico e ocupado, quer recuperar sua aldeota interior. Da infância à vida adulta, só permanece a amizade.

Atores: Adriano Barroso e Ailson Braga I Ambientação cênica e figurino: Henrrique da Paz I Iluminação: Sônia Lopes Contraregragem: Kaio Sézari

Ass de Produção: Belle Paiva Assessoria de Imprensa: Luciana Medeiros Produção: Monalisa da Paz Designer Gráfico: Frank Costa Direção Geral: Henrique da Paz I Capitação de Imagens: Ronildo Carvalho Edição de Imagens: Ruben Aragão

PATROCÍNIO PDV e PDVSA DO BRASIL

APOIO: Companhia de Dança Moderno I Colégio Moderno I Palhaços Trovadores Cuíra I Angatu Audiovisual

Programa COXIA

Tv Cultura - Pará

Eu te amo

Adriano Barroso lê

O ator Adriano Barroso lê trecho de "Eu te amo", novela de Edson Coelho de Oliveira editada pela Oitava Rima Editora. A novela, sobre sexualidade feminina, assimila, na literatura, a linguagem dos quadrinhos para adultos. Ilustrações, Jack Jadson. Câmera e direção de fotografia, Renato Chalu; edição, Eduardo Alves.

© 2018 I  Afonso Gallindo

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